terça-feira, 21 de abril de 2020

Análise da obra “Boi da Cara Preta” de Sérgio Caparelli

Nelly Novaes Coelho (2000, p. 211) ressalta que “a produção poética brasileira destinada especificamente ao público infantil, embora escassa, apresenta inúmeros pontos altos”. A obra premiada “Boi da Cara Preta”, escrita pelo renomado Sérgio Caparelli e ilustrada por Caulos, confirma esta sentença. O livro possui 56 páginas e mede 10,7 cm por 17,8 cm, tendo sido publicado pela primeira vez em 1983 pela editora L&PM e reeditado várias vezes.

 Figura 1 – Capa do livro 


Em sua capa (Figura 1), já podemos observar a ludicidade, já que a ilustração traz um dos chifres do boi como sendo a Lua. É proporcionada ao leitor, através de vários poemas acompanhados de divertidas imagens, uma criativa combinação de cadências, repetições, trocadilhos, trava-línguas, aliterações e onomatopeias que atraem de forma efetiva crianças já alfabetizadas ou não.

As situações vivenciadas nos poemas têm, majoritariamente, como personagens, animais domésticos e selvagens com características humanas, sem haver uma preocupação do autor em ensinar questões morais. Como bem aponta Ricardo Azevedo (1999, p.7), o uso livre da antropomorfização e da fantasia e a presença de personagens guiados pelo livre arbítrio caracterizam-se como elementos que unem conto popular e literatura infantil.

As narrativas são permeadas pela graça, pelo ilogismo e pelo pitoresco de um cotidiano fantástico, como a história do tatu que cavou um buraco até sair no Japão, do jacaré que escovava todos os dentes, menos os de trás, do ganso que fugiu de bicicleta, da barata que não achou nada barato no mercado, do grilo que recebeu um bilhete pedindo silêncio ou da vaca que foi ao bar e exigiu tomar guaraná com canudinho.

Os poemas de “Boi da Cara Preta”, por meio de seus jogos de rimas, ritmo e versos breves, remetem às parlendas e às cantigas infantis tradicionais, como sugerem o nome do livro e o poema “Vaca Amarela” (p.42), aproximando o pequeno leitor/ouvinte de seu repertório de vivências, visto que “se descobre a linguagem antes mesmo de dominar seu uso (...) os diferentes códigos - verbais, visuais, gráficos - se antecipam à criança” (ZILBERMAN, 1985, p.80).


Referências:

AZEVEDO, Ricardo. Literatura infantil: origens, visões da infância e certos traços populares, p. 1-10, 1999. Disponível em: http://www.ricardoazevedo.com.br/wp/wp-content/uploads/Literatura-infantil.pdf. Acesso em 5 de abril de 2020. 

CAPARELLI, Sérgio. Boi da cara preta. Porto Alegre: L&PM, 1983. 

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria, Análise, Didática. 7ª edição. São Paulo: Moderna, 2000. 

ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil para crianças que aprendem a ler. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 52, p. 79-83, fev. 1985. Disponível em: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/1364/1365. Acesso em 5 de abril de 2020.

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